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Denuncie, é o primeiro passo.

Por: Ana Clara Dantas

“Muita coisa foi tirada de mim, muita coisa foi arrancada de mim e uma delas foi a inocência”. – *Cecília Melí, 18 anos.

Quando você convive com uma criança e tem amor por ela, é capaz de mover céus e terras para fazê-la feliz e livrá-la de toda maldade. Às vezes, o máximo

de esforço não é o suficiente.

O mundo, infelizmente, não é um lugar seguro, principalmente, para os pequeninos que não entendem quando um toque é mais que um toque, que palavras ou ju

lgamentos são capazes de marcar o ser humano por toda uma vida e que coisas simples, como frequentar a escola, é direito deles.

É papel da sociedade proteger e cuidar das crianças, mas nem sempre é assim, como no caso de *Cecília Melí, que tinha apenas 8 anos quando sofreu uma das piores dores que uma criança pode sentir, foi abusada sexualmente: “Eu ficava paralisada, passava um filme na minha cabeça, eu pensava sobre outras coisas, coisas boas. Eu tentava fugir, é como se eu saísse do meu corpo e fosse para um lugar que é só meu. Aquilo acontecia, eu sentia, era horrível, doloroso, mas minha alma não estava lá”, relembra a vítima.

Os abusadores não só praticam a violência sexual como também a psicológica, fazendo com que as suas vítimas se sintam culpadas pela violação: “ Quando as coisas aconteciam, ele sempre falava que eu não poderia falar porque eu ia destruir a família, porque as pessoas não iam acreditar e porque eu ia fazer minhas primas chorarem”, conta *Cecília, relembrando as palavras de seu ofensor.

O ofensor sexual pode estar em qualquer ambiente. Na maioria dos casos, tanto com crianças como adolescentes, a agressão ocorre dentro de casa e o ofensor é de convívio das vítimas e muitas vezes familiares. E, a violência atinge qualquer classe social, sexo e raça.

Casos como o da *Cecília são verdadeiros e acontecem diariamente. Depois de quase 8 anos sofrendo nas mãos de seu ofensor, ela contou aos seus pais, que o denunciaram e, imediatamente, ficaram ao lado da sua filha: “Quando eu tinha 15 para 16 anos, eu e meus pais tivemos uma conversa sobre meu comportamento. Então, minha mãe perguntou se tinha algo a mais que eu queria falar para eles. Foi quando eu falei dos abusos e foi libertador! Eu senti um alívio, foi como se um peso fosse tirado das minhas costas!”.

Hoje em dia, *Cecília faz faculdade e leva consigo uma cicatriz, que nunca sumirá da sua alma: “Nas noites que eu consigo dormir oito horas seguidas, eu tenho pesadelos terríveis.Para amenizar ou reverter os danos causados pela violência na infância, o apoio da família é essencial para a vítima, apoiando na denúncia da violência, estando ao seu lado e incentivando a vítima a procurar o apoio psico

lógico profissional”.

O abuso ocorre em qualquer lugar, *Cecília é uma vítima da zona urbana de Porto Velho (RO), mas é muito comum casos de violência nas zonas rurais do Brasil e o apoio nestes locais muito distantes é fundamental, por isso, atualmente, o 2º Juizado da Infância e da Juventude da Comarca de Porto Velho, tem uma atenção maior com os casos da zona rural através do Projeto Miracema.

O Projeto Miracema foi criado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia – 2º Juizado da Infância e da Juventude Comarca de Porto Velho, com objetivo de levar para as regiões afastadas da capital informação e aconselhamento, promovendo palestras nas escolas e reuniões com os representantes da comunidade para informar a todos sobre os tipos de violência que as crianças e adolescentes estão sujeitos e lembrar que hábitos comuns na região, como o casamento com menores de idade é crime. Inclusive, é enfatizado que se um adolescente maior de quatorze anos se envolver com uma menina menor de quatorze anos, também, é crime e ele irá responder por ato infracional.

A psicóloga Camila Alessandra Scarabel, chefe da seção de Assessoramento Psicossocial do 2º Juizado da Infância e da Juventude da Comarca de Porto Velho e integrante da equipe do Projeto Miracema, esclarece as consequências para as vítimas de violências: “Cada violência vai ter uma especificação. A criança que sofre violência psicológica vai se achar inferior, com baixa autoestima; uma criança que só apanha pode ser agressiva na escola, ter dificuldade de interação social; na violência sexual são diversos os sintomas, sendo mais comum as mudanças bruscas de comportamento, como agressividade, isolamento, tristeza, queda no rendimento escolar e dificuldades de concentração. Os abusos podem ser toques no corpo, insinuações verbais, troca de mensagens em redes sociais, sendo essas com teor sexual. E quando há o ato sexual, terão os sintomas físicos, na região vaginal ou anal”.

É importante abordar o tema de violên

cia contra crianças e adolescentes nas escolas e em casa, orientando sobre a diferenciação de carinho e um toque malicioso por exemplo, “Falar sobre isso nas escolas para que aconteça a autoproteção das crianças, para que elas percebam que os adultos estão querendo fazer algo que não é certo. As escolas têm que trabalhar com os pais, para que eles saibam falar isso com seus filhos, tem que falar para a criança do seu corpo, do seu desenvolvimento”, aconselha a psicóloga.

Assim como o 1º e 2º Juizados da Infância e Juventude de Porto velho, existem outros órgãos de defesa e responsabilização. Na Delegacia de Especialização de Apuração de Ato Infracional- DEPCA é realizado o boletim de ocorrência policial em casos de suspeita de violência contra crianças e adolescentes. A delegacia fica localizada em Porto Velho, na Avenida Amazonas, s/n, bairro Escola de Polícia, telefone para contato: 3214-6320. A Defensoria Pública do Estado de Rondônia, orienta e realiza a defesa nos processos de crimes contra crianças e adolescentes, garantindo acesso à justiça para as pessoas que não podem pagar um advogado. O endereço é rua Padre Chiquinho, 913, Bairro Pedrinhas, telefone: 3216-5051.

As Unidades de Saúde são peças importantes na identificação de qualquer tipo de violência. A Unidade de Saúde de Nova Mutum Paraná, ajuda no encaminhamento, e seu endereço é na Avenida Jirau c/ Abunã- s/n, atrás da Rodoviária, telefone: 3237-3042. A Unidade de Saúde da Família de Jaci Paraná, atende 24h e também ajuda no encaminhamento para a realização do boletim de ocorrência, nos casos de violência. A unidade fica localizada na rua Sebastião Gomes s/n, Br- 364, telefone: 3236-6449/ 3236-6788.

Além da Unidade de Saúde em Jaci Paraná, também existe o Centro de Referência de Assistência Social – CRAS, que informa às famílias em quais lugares procurar ajuda. O CRAS fica localizado na Rua José Sales, 2000, Jaci Paraná. Existe também o I Conselho Distrital, com atendimento 24 horas, onde recebe e analisa as notificações, denúncias e suspeitas de violência contra crianças e adolescentes. Fica localizado em Jaci Paraná, na Avenida Hilário Maia,217, telefones: 3236-6121/ 99979-1799 (Plantão).

Todo tipo de violência contra criança e adolescente é crime e gera consequências judiciais. Denunciar é o primeiro passo para o ofensor responder pelos seus atos perante a justiça. Todos podem denunciar qualquer tipo de ação suspeita, discando 100, e não precisa se identificar. Todos os órgãos de defesa citados no decorrer desta matéria direcionarão você para buscar as soluções cabíveis para o caso especifico.

“Sejam fortes! Mesmo que não existam outras pessoas para lutar com vocês. Se estão passando por isso, saibam que um dia acaba. As marcas ficam, dói bastante, mas ninguém nasceu para perder, ninguém nasceu para ser maltratado. Um dia vocês irão conseguir, assim como eu consegui. Sejam corajosas!” – Estas são as palavras da *Cecília, mulher corajosa, para todos que passaram ou vem passando pelo mesmo.

*O nome foi alterado para proteger a identidade da vítima.

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