Na última terça-feira (29/11), o especialista em questões globais do agronegócio e sustentabilidade, Marcos Jank, esteve na Apex-Brasil. A visita serviu para promover uma discussão sobre a inserção internacional do agronegócio brasileiro, abordando aspectos de comércio, sustentabilidade e imagem do Brasil, em especial na Ásia.
O Blog da Apex-Brasil aproveitou a visita de Jank, que também é consultor da Agência para o Programa de Acesso a Mercados do Agronegócio e Alimentos (PAM-Agro), para fazer uma rápida entrevista. Na conversa, o consultor falou sobre a dinâmica recente das exportações agroindustriais brasileiras, da participação do país na 22ª Conferência das Partes sobre Mudança do Clima, a COP 22, e das estratégias que o Brasil deveria adotar para ocupar mais espaço no mercado asiático.
O presidente da Apex-Brasil, Roberto Jaguaribe, tem falado muito sobre a aproximação comercial do Brasil com a Ásia, principalmente no que diz respeito ao agronegócio. Como você avalia essa estratégia?
O presidente Roberto Jaguaribe está corretíssimo. Eu acho que essa relação é absolutamente estratégica e crucial. Eu vejo que nos últimos anos mudou a geografia do comércio em direção à Ásia, principalmente no que diz respeito ao agronegócio. Para se ter uma ideia, a China, sozinha, é responsável por 25% das exportações do agro e o resto da Ásia por outros 20%. Isso é mais que suficiente para nos obrigar a pensar estrategicamente no que vai ser feito na região em termos de comércio e de investimento.
Você costuma dizer que investimento hoje é uma questão central nas exportações e no comércio internacional. Como é isso?
Essas duas agendas andam juntas hoje. E não só com investimentos chineses no Brasil, mas também em investimento do Brasil na Ásia e na China. É uma agenda muito sofisticada que exige sobretudo estratégia. O Brasil tem muita coisa para dizer. Tanto em termos de comércio, como investimento, como imagem, como de sustentabilidade. Temos que ter uma estratégia que envolva comércio e investimento, que envolva coordenação com governo e setor privado, e que precisa ser trabalhado especificamente para a Ásia.
E você acha que a Apex-Brasil tem um papel importante neste processo?
Sim, certamente. Acho que a nova estrutura da Apex-Brasil vai colaborar bastante para o desenvolvimento do comércio exterior. Havia uma dificuldade de diálogo entre Apex-Brasil, Itamaraty e Ministério da Agricultura. Agora, existe um diálogo muito maior. A própria Câmara de Comércio Exterior (Camex) foi reestruturada dentro do Itamaraty e está com uma agenda mais robusta, com mais pró-atividade no exterior. Eu sinto que, vendo tudo isso junto, temos uma base para fazer algo diferente. O que está faltando aí? O setor privado. E a Apex-Brasil é o principal órgão que lida com o setor privado nos projetos de presença das entidades brasileiras no exterior.
Você fala muito em construção de imagem. Como você vê esse trabalho sendo feito atualmente?
Vejo essa nova gestão Apex-Brasil caminhando para a área de defesa de interesse e de trabalhos de imagem. Há um tremendo ganho. Eu me lembro, quando eu estava na União da Indústria da Cana-de-Açúcar (ÚNICA), que nós desenvolvemos um projeto de internacionalização do etanol brasileiro focado em defesa e imagem, mas era o único projeto da Apex-Brasil com essa característica. Agora, várias outras entidades estão caminhando nessa mesma direção e a Agência está entusiasmada com esse novo formato, que exige que estejamos fora do Brasil, mapeando atores relevantes, engajando o público lá fora. Acho que faz todo sentido para o agronegócio que, mais que participar de feiras, deve fazer ações para abrir mercados.
Você voltou agora da COP 22. Qual a percepção que você teve em relação à participação brasileira no evento?
Eu acho que temos um Brasil mais coordenado do que antes. Nas primeiras edições da COP, tínhamos um conflito muito grande entre a comunidade empresarial e as ONGs. Hoje, existe um diálogo em andamento. Na área do agronegócio foi criada a chamada Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que é a união de 150 ONGs, empresas, entidades empresariais e institutos de pesquisa, que estão dialogando em oito grandes áreas, como desmatamento, uso da terra, energia renovável e outros temas. Existe, claramente, uma melhoria de coordenação, tanto da sociedade civil, como no governo. Também foi bom ver o sucesso que o espaço Brasil da Apex-Brasil alcançou na conferência. Acabou se tornando um local de encontro da comunidade brasileira e da realização de eventos com vários representantes de outros países. Foi muito positivo.
Você é um dos consultores do PAM-Agro. Como você vê esse programa nesse esforço de avanço no mercado asiático?
Esse programa, que é de acesso a mercados voltados aos produtos do agronegócio, nasceu aqui na Apex-Brasil. O que estamos fazendo não é inventar a roda. Estamos, tardiamente, fazendo o que outros países já fazem. Quando se fala em trabalhos de defesa e imagem relacionados ao agronegócio, você vai encontrar países que fazem isso há 40 anos, como Austrália e Nova Zelândia, que têm toda a sua presença na Ásia feita com programas governamentais associados a setores privados. O Brasil, que já é um competidor importante no mundo, precisa fazer esse tipo de programa.
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