Por Ana Luísa Calmon
A língua, seja escrita ou falada, é o meio de comunicação mais utilizado por nós. É constituída por palavras diversas e conjuntos específicos de códigos, usados sob regras e leis de combinação, permitindo, assim, a fácil compreensão das mensagens a serem passadas através dela.
As regras gramaticais de cada língua orientam e regulam seu uso, estabelecendo um padrão de escrita e de fala baseado em diversos critérios. Entretanto, a linguagem, em qualquer lugar, é influenciada por outros inúmeros fatores desenvolvidos ao longo do tempo e que envolvem os aspectos históricos, sociais e culturais de determinados grupos, buscando se adaptar aos falantes, o que torna a fala algo muito singular, que se manifesta de várias maneiras diferentes de acordo com o local em que está sendo utilizada.
Tais diferenças linguísticas existentes dentro de um mesmo idioma, como sotaques, gírias e regionalismos, geralmente não são respeitados por não fazerem parte da “língua-padrão”, o que constitui o Preconceito Linguístico, uma das formas de preconceito mais praticadas e menos discutidas. Quando existem várias línguas faladas, e uma delas se torna primordial, as demais línguas passam a ser objeto de repressão.
Muitas pessoas acreditam na existência de uma única língua correta, que aprendemos na escola, supostamente superior e baseada no uso rigoroso da gramática normativa, considerando, assim, as demais variações da língua como incorretas. Pessoas do Norte, ou Nordeste do país, bem como do interior de outros estados, por exemplo, são discriminadas constantemente pela sua forma de falar, seja pelo sotaque ou pelo uso de palavras ou expressões muito utilizadas nos seus lugares de origem, mas não tão usadas em outras regiões. Outras, também, sofrem com esse preconceito por não terem acesso à educação, não conhecendo, assim, as normas gramaticais e a forma culta da língua portuguesa.
A ideia de “seguir” um determinado padrão à risca para estarmos corretos é totalmente errônea. Marcos Bagno, linguista e professor do Instituto de Letras (IL) da Universidade de Brasília (UnB), aborda na obra O Preconceito Linguístico – O que é, como se faz, publicado em 1999, as implicações sociais da língua. Segundo ele, não existe uma forma “certa” ou “errada” dos usos da língua, e o preconceito linguístico apenas colabora para a exclusão social.
É necessário que haja um equilíbrio, que as pessoas entendam que a gramática é necessária para direcionar o uso da língua e, ao mesmo tempo, saibam respeitar as diferenças no modo de falar de cada um. Bagno defende que: “Para construir uma sociedade tolerante com as diferenças é preciso exigir que as diversidades nos comportamentos linguísticos sejam respeitadas e valorizadas”. Portanto, o respeito acima de tudo, é a chave para uma boa integração entre todos. A fala ensina, aproxima, diverte… ela é fundamental, e precisa ser respeitada!
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