“A CI&T começou com um backspace”. A frase do fundador e CEO da multinacional brasileira de serviços de TI parece até brincadeira, mas é quase literal. Em 1990, quando Cesar Gon trabalhava na empresa júnior da faculdade de computação da Unicamp, surgiu uma demanda. “A descrição do projeto informava que o cliente era uma empresa alemã, que estava tentando trazer um software para o Brasil. Na Alemanha, esse programa só rodava em mainframe (computador de grande porte capaz de realizar processamento de dados complexos). No Brasil, a intenção era que funcionasse em máquinas com linguagem fortran (que traduz equações cientificas para códigos de computadores). Já havia seis meses que uma equipe de 15 pessoas da empresa alemã trabalhava nesse software, mas não conseguia fazê-lo funcionar”, explica Cesar.
A solução que se segue ao problema, mesmo que simples, abriu caminho para uma história baseada no preparo, determinação, inovação e persistência, caminho imprescindível para o sucesso no mundo dos negócios. Também são atributos comuns a várias empresas brasileiras que abriram espaço no mercado internacional e que hoje são destacadas na campanha #BeBrasil, da Apex-Brasil.
Diante do enigma que os técnicos alemães penavam havia meio ano, dois professores, tutores da empresa júnior, analisaram o projeto e sugeriram uma possível explicação para o problema: “Geralmente, quando o software muda de computador, o problema pode ser gerado por uma questão de precisão numérica”, disse um deles.
“Chegamos para conversar com os caras da empresa alemã e eles pediram somente que déssemos uma formatada nos códigos. Caso conseguíssemos fazer isso, nos contratariam por mais três meses e aí sim poderíamos tentar buscar a solução para o real problema”. Mas os alunos da empresa júnior não precisaram de muito tempo para descobrir o problema. Enquanto faziam o que havia sido pedido, perceberam que havia uma diferença numérica entre o que os alemães haviam programado e o que os manuais aconselhavam para aquela linguagem na nova máquina. “Vimos que a precisão numérica deles tinha a diferença de uma casa decimal: o manual pedia dez casas decimais e na programação deles havia 11 casas. Ou seja, o mainframe tinha uma casa decimal a mais. Numericamente parece muito pouco, mas na prática, esse número a mais gera diferenças gigantes. Estávamos há meia hora com os alemães e já tínhamos resolvido o problema deles, simplesmente apagando um zero”, relembra Cesar, rindo.
O início da CI&T
Cesar se considera “um programador precoce de Amparo, interior de São Paulo”. Aos 11 anos, ele viu um computador na casa do vizinho, se interessou, começou a comprar revistas de informática e aprendeu a programar. “Eu usava o caderno da escola durante a aula e ficava programando por código. Um dia, a professora viu o que eu fazia e chamou a minha mãe para falar que tinha algo errado. Eu expliquei, mostrei as revistas e minha mãe perguntou se eu queria um computador, mas naquela época era uma fortuna. Passaram-se seis meses e ouvimos falar de um dentista, que tinha comprado um computador, mas que não usava. Minha mãe conseguiu comprá-lo por um preço simbólico. Criei uma missão para mim: ganhar dinheiro para adquirir um computador melhor. Por isso, fazia alguns trabalhos como freelancer, mas o que dava dinheiro era desenvolver joguinhos para revistas de informática”, conta Cesar.
“Meu projeto de vida era ser pesquisador de ciências da computação e não empresário. Terminei a faculdade, o mestrado e queria juntar dinheiro para fazer o doutorado nos Estados Unidos. Por isso, prestava serviço de consultoria para a IBM. Eles iriam contratar uma empresa para fazer um projeto e me convidaram para treinar a equipe que ganhasse a concorrência. Perguntei se poderia participar da concorrência e eles falaram que sim, mas faltavam duas semanas para o fim do processo e eu não tinha nem uma empresa. Acabei conhecendo um professor da Unicamp que tinha uma empresa de consultoria, mas que iria voltar a ser professor integral e que, por isso, não poderia mais trabalhar como consultor. Ele ia fechar a empresa que se chamava CI&T (Consultoria Informática & Tecnologia). Convenci-o de me dar a empresa e ele ainda me permitiu deixar o currículo dele para avaliação na concorrência da IBM. Deixei-o com 1% da empresa e chamei meu sócio, o Fernando. Fomos aprovados e ganhamos a concorrência. Assim, foi o início da CI&T”, explica.
O “avesso” que deu certo
Segundo Cesar, a empresa começou “do avesso”, ou seja, com o primeiro contrato para atender um laboratório de pesquisa da IBM na França, e com o segundo projeto para o laboratório da IBM dos Estados Unidos. “Nós já tínhamos 20 funcionários e características que compunham o DNA da CI&T, precisávamos de pessoas que falassem inglês e que fossem melhores que a gente. Todo mundo que era contratado era conhecido um do outro e da Unicamp’, explica.
A CI&T desenvolve pessoas antes de softwares
Para Cesar, o Brasil ainda está engatinhando no que diz respeito à mentalidade voltada para tecnologia: “Na década de 1990, o Brasil decidiu competir, mas não tinha o histórico e o ambiente de empreendedorismo. A minha geração era a de filho de professor ou de funcionário público, ao contrário do que acontecia nos Estados Unidos, onde empreendedorismo vem de família. O Brasil é hoje o que o Vale do Silício era em 1960, ou seja, estamos 50 anos atrasados, mas é um processo normal. Hoje, já vemos calouros das universidades pensando em montar startup, já temos vocabulário, metodologia e exemplos do que eles podem fazer e seguir”, explica.
O foco dos negócios vai além de TI. “O meu ponto de partida nunca foi a tecnologia em si. Nosso lema interno é que a CI&T desenvolve pessoas antes de desenvolver softwares. Esse é o nosso dia a dia, respiramos tecnologia, mas 90% do nosso negócio está em discutir a gestão da equipe”.
A entrada no mercado internacional
De 1997 a 1999, a empresa entrou numa fase de grande crescimento. Ficou um ano com as atenções voltadas para o mercado interno e, em 2000, voltou os olhos para o mundo, iniciando a participação em feiras, eventos e exposições. Nessa época, o mercado internacional sofria grande influência dos indianos, que se posicionavam na indústria global de software com o selo CMM (Capability Maturity Model, criado pelo Software Engineering Institute). “Como o Brasil não tinha nenhuma empresa com esse selo, fizemos um empréstimo com o BNDES para adquirir essa certificação e conseguir concorrer no mercado internacional. Nessa época, nós já faturávamos seis milhões de reais. Alguns anos depois, nos tornamos não só a primeira empresa brasileira a ter o CMM, como também a menor empresa do mundo a ter o selo, tínhamos 200 funcionários”, conta Cesar.
Em 2004, a CI&T assinou o primeiro contrato de exportação com uma empresa da Califórnia e depois com a Johnson & Johnson. Era o momento certo de expandir: a primeira filial foi nos Estados Unidos e, em seguida, a empresa atravessou o mundo para aterrissar no Japão. Hoje, além destes dois países, a CI&T também está presente na China e na Itália.
Texto originalmente publicado em 9 de setembro de 2014
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